TSSSS! Prepara o tamborim que vamos dançar no Kremlin. 

Olhei meus textos e me dei conta que apenas minha primeira resenha era sobre uma cerveja de além-mar. Todos os goles sucessivos vieram de nossa terrinha – e te digo… não foi uma escolha ufanista, nada disso. É que realmente as cervejas deste nosso canto doido estão dando o que falar.

 

soubrasileirocommuitoorgulhocommuitoamooor…

Além disso, é legal experimentar e resenhar opções nacionais para que você encontre e beba sem desculpas.

A escolha desta vez não poderia ser mais apropriada: vamos encher o copo com uma obra-prima desta cervejaria gaúcha que leva o Brasil no nome, que expõe e homenageia nossas raízes. Vamos mandar goela abaixo um exemplar da bicampeã no recente Concurso Brasileiro de Cervejas, a Cervejaria Tupiniquim.

De cara algo já chama atenção. Tal como no meu último post, temos novamente a presença de animais – a cervejaria adota a arara azul como símbolo, possuindo inclusive uma tampinha altamente colecionável em seus rótulos. As garrafas estampam com orgulho o slogan “Cerveja Artesanal Brasileira”, sem que isso seja apenas um argumento de marketing: estamos falando realmente de opções incríveis, de uma cervejaria fora da curva e especial.

A arara azul está em extinção devido à caça. Será que essa aguenta o tranco?

Hoje vamos beber uma Monjolo Imperial Porter. “Bah! Que nome, tchê!”. São três palavrinhas que dão gancho pra muito papo de bar, vamos lá?

Dizem que as “porters” são as mães das cervejas mais escuras. O estilo nasceu na Inglaterra, em meio aos carregadores de bagagens, estivadores e trabalhadores dos portos. Para completar os famosos pints desse povo sedento por cerveja, os pubs misturavam cervejas escuras e claras, criando um blend muito apreciado pelo pessoal portuário.

#partiupub

Como o estilo nasceu essencialmente de uma mistura entre cervejas, existem diversas variedades de Porters. Uma delas é a Russian Imperial Porter, ou simplesmente, Imperial Porter. A história conta que os ingleses produziam essa cerveja especialmente para a Rússia. Ela possuía uma porcentagem de álcool alta, além da adição de uma quantidade considerável de lúpulo para resistir à longa viagem. Alguma semelhança com o que já falamos sobre as IPAs?

Bom, a nomeação Imperial é simples de associar: contam que o czar da Rússia era um grande apreciador do estilo, garantindo parte do carregamento para sua corte e consumo próprio.

Skavurska! Esse papo todo me deu uma sede…

Das paragens geladas do território russo, pulamos para as terras férteis do Brasil colonial (e imperial). Monjolo é um artefato antigo muito utilizado neste período de nossa história para socar grãos, geralmente movido a água ou tristemente, por escravos. Como dito no rótulo, “a evolução é o elo do ontem e do hoje, e a cerveja não fica fora disso. Tudo passa, mas a história não deixa esquecer”. E assim fechamos o significado do que temos estampado na garrafa.

Vamos beber? Como sempre, vai com calma: sirva devagar pois aqui o bicho pega. Temos um creme farto, com boa formação de espuma marrom. A cor é negra, um tom bem escuro. É linda na taça. Não tem como não reparar no aroma: você sente o café, o chocolate e o torrado na hora. Fique nele um pouco, vai te atiçar mais ainda.

O gole faz russo sambar de alegria e brasileiro tremer na base: o álcool é potente, estamos falando de 10,5% ABV que aparecem principalmente ao final. Na boca é uma história sem fim: caramelo, castanha, chocolate e café novamente, baunilha e um quê adocicado. É uma cerveja bem complexa, que demandará atenção durante toda degustação. É robusta, mas equilibrada em suas características – pra bater no peito e ter orgulho da mistura que também somos.

Saúde!